terça-feira, 8 de junho de 2010

Gostar

*Obrigada meu querido Amigo Zé Paulo*
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Gostar de alguém é a mais difícil das conquistas.

Difícil, porque gostar de verdade é muito raro. Necessita de preocupação, de química, lágrimas, brisa ou encantamento. Sexo, envolvimento e até paixão, é fácil.

Mas gostar mesmo, é muito difícil. Para gostar de alguém não precisamos que este seja o mais bonito ou o mais sexy, mas ser apenas aquele a quem se quer proteger e que quando se chega ao seu lado nos sintamos encantados, estando ele bem ou deprimido. A protecção não precisa de ser decidida ou autoritária, basta muitas vezes um olhar de compreensão ou mesmo de aflição, um afago na cabeça ou na mão.

Quem não sabe gostar é quem não tem amor, é quem não sabe o gosto de gostar. Há quem não saiba o gosto de gostar. Uma pessoa pode ter várias outras desejando-a, pode ter um envolvimento e vários amantes e mesmo assim pode não ter alguém que goste dela verdadeiramente.

Não sabe gostar quem não sabe o gosto de chuva, da sessão de cinema de mão dada, da ansiedade do reencontro, a vontade de ouvir a sua voz ou apenas a sua gargalhada.

Não sabe gostar quem ama sem carinho, quem acaricia apenas com desejo sexual e quem ama sem alegria. Não sabe gostar quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações e vontades, quem faz sexo sem esperar que o outro vá junto com ele.

Não sabe gostar quem faz um pacto de amor apenas com a infelicidade. Gostar é fazer pactos com a felicidade mesmo que esporádica, escondida, fugidia ou impossível de durar.

Quem gosta, sabe do valor da mão dada num gesto repentino, apenas porque apeteceu, de um carinho na face, do abraço apertado, da vontade de comprar e oferecer um perfume, do mimo, de poesia lida bem devagar, do sorriso que quer aparecer quando o outro chega, do brilho do olhar ou o olhar cúmplice sem palavras.

Não sabe gostar quem não gosta de sentir o cheiro do outro, do toque da pele, a respiração junto à sua cara, do calor do seu olhar.

Não sabe gostar quem não gosta de falar das suas próprias fraquezas, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, espantado pela redescoberta contínua.

Não sabe gostar quem não tem um nome carinhoso para o outro, quem não dedica livros ou poemas, quem não manda mensagens, quem goza sem aprofundar.

Não sabe gostar quem nunca sentiu o gosto de ver o seu pensamento invadido de repente no fim-de-semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia, com a imagem do outro.

Não sabe gostar quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não sabe gostar quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afectuoso.

Saber gostar é também exagerar. Saber gostar é enlouquecer aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.

1 comentário:

Soraya Guimarães disse...

Ora nem mais. Não existe melhor definição que este texto (: *