quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Porque este blog fala de amor.


Só hoje, 30 anos depois percebo que afinal era amor quando os meus pais preferiram esperar quase 20 anos para comprar a sua própria casa... a pronto.

Que afinal é amor não irem de férias há mais de 10 anos. É amor nunca, nunca, nunca ter faltado nada do bom e do melhor na mesa para comer. Afinal era amor a quantidade de vezes que não foi possível comprarmos as calças donovan e levis e as botas da moda que na altura custavam 20 contos.

Era amor a mesada que nos deram todos os meses com muitos sacrifícios e as refeições que já iam preparadinhas para comer todas as semanas. A roupinha passada e limpa.

Percebi que o amor que sempre recebi, é amor. Aquele que não se compra e que não acrescentava zeros à conta bancária dos meus pais. Aquele que permitiu viver sempre numa mar calmo, numa não abundância suave. Nos carinhos e conquistas que sempre tiveram um sabor particular e muito especial. Numa falta de efectivamente nada. Nem amor, nem atenção, nem cuidado, nem o que é verdadeiramente essêncial.

Estou cansada de lamúrias, de ricos que já não são tão ricos e parecem miseráveis. Daqueles que sustentaram a sua vida em merda que de nada vale e hoje já não têm o mesmo dinheiro para voltar a comprar. Estou cansada de ver pessoas que poderiam estar bem e não estão porque a ganância não lhes permitiu. Porque a falta de amor nunca foi problema. E porque o amor, para estes, vinha em formato de jóias, carros de luxo e mansões.

Tenho esperança que esta crise pela qual passamos, acima de tudo, faça com as mentalidades mudem e que se passe a sustentam a verdadeira riqueza em tudo que não se pode comparar.

Como diz o sábio MEC: “O dinheiro não compra a felicidade, mas alivia a infelicidade. O dinheiro não compra a felicidade, mas torna a infelicidade mais pura, livrando-a das distracções desconfortáveis, provocadas pela falta de dinheiro, que concorrem com ela, disputando prioridades."

É inegável de facto, o dinheiro ajuda e alivia, mas não pode sustentar a vida, a realização, a concretização e o crescimento interior.

Porque este blog fala de amor, não vou criticar quem hoje, mesmo com um emprego, um tecto e comida na mesa se continua a queixar e a lamuriar porque não pode comprar os sapatos xpto e o iphone topo de gama. Não vou criticar quem, tal como os meus pais, não fez qualquer tipo de sacrifício ao longo da vida e pelo contrário se individou infinitamente para comprar televisões e consolas de jogos. Não vou criticar porque também acho que cada um é livre de fazer o que bem entende do seu dinheiro e da sua vida, mas depois não venham chorar para os telejornais, para os blogs e em cada canto e esquina. Porque se eu ainda posso pagar para ver televisão, acho que tenho o direito de não ser violada e afrontada por eles.

O erro foi acima de tudo, desta mentalidade tacanha de querer viver acima de toda e qualquer possibilidade, para manter um estatuto, para manter uma imagem, para ter sempre um carro melhor e uma casa maior que o vizinho do lado.

Tentemos todos ter um coração melhor e maior que os outros. Tentemos todos ser mais honestos, mais verdadeiros, mais trabalhadores, mais justos, mais cumpridores. Tentemos todos, agora fazer um esforço por mudar as prioridades e as perspectivas. Olhar um pouco mais para dentro. Evoluir como seres. Desprendermo-nos dos bens materiais.  Vamos lá parar de de nos queixar do trabalho que é muito, do ordenado que é pouco, da falta de motivação, do frio porque está frio e do calor porque está calor.

Tenho efectivamente pena de quem não tem mais porque não pode. De quem passa fome porque não tem alternativa, de a quem verdadeiramente falta tudo... porque acima de tudo são estes que nunca venderam a alma ao diabo e sofrem hoje pelo caros leilões que são feitos nas entranhas de um qualquer universo obscuro.

Sejamos todos mais equilibrados e justos. Mais humanos. Menos chorões.

E porque este blog fala de Amor. Hoje entendo melhor que nunca, o verdadeiro e único Amor em que fui criada.

Obrigada Mãe pela tua inigualável capacidade de gestão e previsão do futuro, Obrigada Pai por nunca te teres deixado ludibriar por propostas milionárias que te teriam transformado e, que hoje, muito provavelmente, te fariam chorar de fome e arrependimento.

Amor e riqueza são a família que temos hoje. E esta, não há crise que destrua.

Sem comentários: