Falhar como pessoa...

Se há medo que eu tenho e me atormenta é falhar como pessoa. Falhar como amiga, como filha, como esposa, falhar como pessoa. E se a falha na minha perspetiva é medida por mim, na perspetiva dos outros é medida por eles e eu pouco ou nada poderei fazer para mudar a sua visão. Porque a minha forma de ver as coisas é radicalmente diferente da da maior parte das pessoas com quem lido todos os dias.

Por vezes a inocência de quem não tem maldade é traiçoeira e fantasiosa. Facilmente mal interpretada pelas atenções que não têm foco nem objetivo. E se a mais insignificante atitude se transforma numa novela, deverei temer eu por atitudes que mudam hábitos, que tiram as pessoas da sua egoísta e apática bolha de conforto?

Tenho medo de falhar como pessoa, e falhar como pessoa não é não conseguir apagar todos os fogos, socorrer todos os amigos nem estar sempre bem-disposta para a família. Falhar como pessoa é saber o momento certo para dizer Não, para dizer Sim, para fazer sentir falta, para impor o que consideramos essencial. Falhar como pessoa é olhar mais para o próprio umbigo do que para os outros, colocarmo-nos erradamente em primeiro plano mas mais errado é colocarmo-nos em segundo quando não é justo que assim seja.

Falhar como pessoa é falhar na essência, na atitude, na ordem e nas prioridades. Falhar como pessoa sendo desonesta connosco e com os outros. Tenho medo de falhar como pessoa à luz das sombras de quem não sabe genuinamente amar com o coração despojado de qualquer ego e interesse.

Cada vez mais me deparo com pessoas menos capazes. Menos inteiras. Menos completas. E se há medo que me sufoca é este, a dúvida de partilhar tanto tempo da minha vida com pessoas pouco pessoas, sem alternativa. E assim, falhar, eu, como pessoa, por não ter coragem de mudar.