Os gritos saem-me pelas entranhas em surdina.
Tenho medo, muito medo. Há 30 anos que tenho medo. Não consigo interpretar este sentimento, este vai e vem de pensamentos e imagens que me esmagam, que me trucidam, que me assustam e que tanto me magoam e limitam.
Vivo acorrentada a estes medos, num sentimento de desrespeito total da minha pessoa, enquanto filha, mulher e amiga. Se alguém ouvisse os gritos que ecoam na minha cabeça com certeza entenderia a minha persistência e tristeza na face quando de cada vez que os que mais amo, vêm e voltam. Nunca saberei até quando e não sei viver nesta incerteza.
Quero-os vivos a meu lado, todo o tempo possível. Sinto-me incapaz e sem o direito, quase egoísta, de controlar o seu bem-estar e futuro.
Tenho medo que morram. Tenho medo que desapareçam da minha vida. Tenho medo de não saber nem poder viver de outra forma que não com eles.
Vivo sufocada desde sempre. Na certeza evidente de que não são tomadas as melhores opções nem feitas as melhores escolhas. Eles não vivem felizes e saudáveis por opção, eu não consigo viver feliz sem a felicidade deles. Igualmente errado. Igualmente penoso e irreversível se me deixar esmagar por impostas escolhas.
Quero dar a volta, dar asas aos que mais amo, para que possam tomar as suas decisões livremente, mesmo que implique perde-los precocemente.
Não quero nem consigo viver mais com o sofrimento de ver sofrer por opção e fraqueza.
Choro lágrimas de sangue, e esventro-me sempre que abro a boca para gritar a quem amo, que parem, que se moderem, que relaxem, que usufruam da não dependência. Que vivam os prazeres da vida.
Estar profundamente triste e preocupada, espero não ser mais do que o meu próprio trampolim, para exorcizar os fantasmas que me povoam os sonhos e transformam em guerra a paz que conquisto em cada vitória.
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